Depois do diagnóstico de linfoma, minha médica marcou a data da primeira quimioterapia - 27 de Janeiro de 2017.
Eu já sabia um pouco sobre os efeitos colaterais, pois tratei de ler artigos concernentes, além de ouvir uma amiga, que já havia passado pelo tratamento. Contudo, uma coisa é você saber, outra totalmente diferente, é vivenciar a experiencia.
A noite que antecedeu o dia dessa primeira sessão foi longa. Não consegui dormir. Estive acordado até as cinco horas da manhã. Os pensamentos eram os mais diversos possíveis. "Será que vou passar mal?" "Será que vou vomitar?" "Será que vou sentir tonturas?"...
Bem, chegou o dia. Chegou a hora. As 05:30 da manhã, ouvi a buzina do carro. Era meu tio(a quem serei eternamente grato). Teríamos uma hora e meia de viagem pela frente, até a capital João Pessoa. Estava apreensivo, ansioso, inseguro e ainda, de certa forma, um pouquinho chateado por estar passando por isso tudo. Também pudera, não estaria tratando uma gripe, mas sim, um câncer. Não estava indo tomar um soro, mas, a temida e desgastante quimioterapia.
Durante a viagem a mente seguia borbulhando, produzindo seus brotos, a saber: "meu Deus, por que estou passando por isso?" "Eu deveria estar em casa dormindo." "Eu deveria estar me arrumando para o trabalho." Enfim.
Apesar de tudo, estava querendo mesmo era passar logo por isso. Saber como meu organismo reagiria e tal.
Chegamos ao Hospital Laureano, agilizamos todo o protocolo e subimos para a sala na qual receberia a medicação quimioterápica.
Passei pela primeira sala e por uma janelinha transparente vi os pacientes sentados nas poltronas recebendo suas medicações. Cumprindo suas sessões. Gente de várias idades, diferentes classes sociais, porém, iguais em um ponto, todos lutando e vencendo, a cada sessão o seu drama, o seu câncer.
Entrei numa das salas. Sentei numa das dez poltronas. Enquanto minha esposa apresentava a prescrição aos enfermeiros, eu, meio que perdido, tentava assimilar e aceitar toda aquela situação. O que estou fazendo aqui? Perguntei a mim mesmo. Rapidamente, me sobreveio um desengano. Senti minha alma afligida em questões de segundos. Surgiu a vontade de chorar, mas segurei. Minha esposa percebeu o quanto eu estava mal por dentro, pois toda hora perguntava se eu estava bem. Eu respondia que sim, mas na verdade, queria sair correndo dali. Pegaram o meu acesso, e, enquanto recebia o primeiro soro, tratei de relaxar a fervilhante cabeça, no fato de que, era tudo para o meu bem. Que não estava só. Que precisava honrar o apoio de uma grande turma que estava na torcida por mim.
A equipe de enfermagem, tornam leve as sessões quimioterápicas com um atendimento de qualidade, competente e um tanto descontraído. No meu caso, sabendo eles que era minha primeira vez, recebi uma certa atenção. Fábio, um dos enfermeiros, nos tirou dúvidas, explicou o que eu poderia sentir como reação imediata(graças a Deus não tive) e mim fez rir algumas vezes. Horas depois, todo aquele fardo psicológico desapareceu.
Outra coisa que também me tranquilizou, foi a troca de ideias que tive com o moço que estava ao meu lado. Ele já estava na terceira sessão. Morava no alto Sertão. Ele havia falado que seu cabelo caiu após 15 dias da sua primeira sessão, mas que não teve, até aquele momento, reações graves. Coisa que desejei que acontecesse comigo também(e estar acontecendo rsrs)... Minha esposa sempre trazia algo para mim. Um suco. Uma água de coco. E eu repartia com ele. Porque ali dentro o sentimento é fraterno, solidário, puro, verdadeiro. Todos torcendo um pelo outro. Ali somos guerreiros. Somos irmãos. Fernando Pessoa, em sua poesia "A navegar", escreve o seguinte: "...Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tira-lo também..." Essas palavras traduz o bem querer mútuo que permeava ali entre nós.
Interessante, também, é que, sempre que alguém está na última sessão, alguém diz: "fulano fez hoje a última sessão". Todos reagimos em clima de comemoração, e, às vezes, até aplaudimos. O sentimento de vitória de um é, também, de todos. Os que terminam a sessão mais cedo, vão embora, mas antes de sair da sala nos deixam um fervoroso "Deus abençoe a todos" - Amém, respondemos.
Dentro do que pude observar, sentir e vivenciar estou terminantemente convencido de que, não há sentimento mais divino que o amor ao próximo. Plante egoísmo e provavelmente, numa dada fase da vida, você estará só. Plante e cultive amor ao próximo, e certamente, em todas as fases da vida, você nunca estará só.
Bem, no período entre o primeiro e quinto dia, após esta minha primeira quimioterapia, tive náuseas. Mas não cheguei a ter ocorrências de vômitos. A ponta dos dedos das mãos até hoje estão adormecidas. Algumas vezes senti dores de cabeça. A boca amargou. Tive dores de barriga sempre após as refeições. Tudo que era doce me causava enjoos(não suporto ouvir a palavra biscoito rsrs). Tive uns refluxos. Sentir leves dores onde os nódulos estavam localizados. E parte do ombro direito ficou um tanto dormente. Passados 16 dias o cabelo começou a cair.
Hoje meu organismo está mais adaptado, digamos assim. Até agora não tive perda de peso. Não tive perda do apetite. Alimento-me bem. E assim vamos vencendo uma quimio de cada vez. Que venha a terceira - 10/03/17.
"Enquanto houver vontade de lutar haverá esperança de vencer."
Santo Agostinho
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Primeira Quimio 27.01.17 |
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Segunda Quimio 17.02.17 |
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Esposa e a amiga Helen Nunes que também luta contra um cancer |
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Gelvana Oliveira - Atua na área da Mamografia. Nos visitando - Grato |
"Só somos fortes, mas juntos somos imbatíveis".
Deus é contigo. Fé eu sei q vc tem e isso é o bastante! O essencial! Parabéns guerreiro!
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